Uma amiga, que tive o prazer de conhecer por acaso em Viana do Castelo, teve uma aberta e perguntou-me se estaria com disponibilidade e vontade de estar com ela. Eu sendo bicho social que aprecia a entrada de novos membros no meu submersível e sabendo de antemão que a minha agenda pessoal andava tão carregada como o cartão de crédito que me acompanha, respondi-lhe de imediato que sim.
Acabamos por nos dirigir ao bar da pousada. Calmo, sereno, tranquilo, sossegado, pacato, ameno, descontraído ou relaxante (já vos contei a minha relação com os relaxantes?), tudo sinónimos de um estado de espírito que aprecio por norma geral mas que desejava em particular para aquele dia. E quando assim o desejo vou para os meus “Secrets spots”, um deles é este…
Quando lá chegamos e já depois de termos feito o nosso pedido, não me lembro em que momento da nossa conversa, um indivíduo com aspecto de 50 anos (mas que na realidade já tinha os seus 60) meteu conversa connosco. De seu nome Miguel, provinha da Dinamarca país para o qual fugiu com 19 anos aproveitando a boleia de uma comitiva de atletismo e da qual não mais regressou, de modo a fugir à guerra colonial. No momento em que se apresentou, dando-se ao trabalho de nos oferecer uma música que mandou servir a todos os presentes (escusado será dizer que só lá estávamos nós os três), apercebi-me logo que deveria ser de boa casta. Quem é que se lembra de presentear música a desconhecidos? Quanto a vocês não sei, mas eu da próxima vez que quiser impressionar o sexo oposto já aprendi o que fazer.
Enquanto lá estivemos, contou-nos toda uma série de crónicas no seu país de acolhimento. Tinha passado fome, andado a vaguear pelas ruas de Estocolmo durante uma série de tempos que nem ele se lembrava, trabalhado como criado de restaurantes e bares, tornara-se carpinteiro por necessidade e tinha aprendido dinamarquês porque assim o exigia o programa de acolhimento a exilados políticos. Toda uma série de privações do qual se inclui também uma fase de alcoólatra devido a solidão que sofreu e da qual recuperou graças a um desconhecido dinamarquês que teve a inteligência de o perceber. Casado 3 vezes, estando actualmente a fazer revista em terras lusitanas com a actual esposa dinamarquesa, tinha 2 filhas e tinha moradia tanto na Dinamarca com em Portugal (Viseu). País que visitava com frequência todos os anos…
O mais que me impressionou nele foi a humildade que parecia emanar. Nunca durante a conversa que mantivemos se verificou, da sua parte, uma réstia de superioridade existencial. Nem tão pouco me pareceu que se estava a gabar. Antes me parecia estar contente por ter regressado ao país que o viu nascer e crescer, e poder partilhar com congéneres seus uns “Lusíadas” menos prosaico, isso é certo, mas igualmente louvável do ponto de vista de esforço humano. Tudo relatado de uma forma afável mas com moldes de uma evidente felicidade nostálgica.
2 comments:
venho aqui por acaso, e não é que identifico a historia.... grande homem, grande conversa..grande "parte" da noite..grande vida que deixa bem presente o quanto somos pequenos! grande experiencia que nos reduz com a simplicidade que nos demonstrou!! porque é nas coisas simples que estao as mais valiosas!! Vale sem duvida a pena contar... o beijinho fica pra ti:P
Porque nao voltas a escrever? Leio-te, acho interessante!
cmp
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