Friday, April 27, 2007

Miguel o Dinamarquês:

Uma amiga, que tive o prazer de conhecer por acaso em Viana do Castelo, teve uma aberta e perguntou-me se estaria com disponibilidade e vontade de estar com ela. Eu sendo bicho social que aprecia a entrada de novos membros no meu submersível e sabendo de antemão que a minha agenda pessoal andava tão carregada como o cartão de crédito que me acompanha, respondi-lhe de imediato que sim.
Acabamos por nos dirigir ao bar da pousada. Calmo, sereno, tranquilo, sossegado, pacato, ameno, descontraído ou relaxante (já vos contei a minha relação com os relaxantes?), tudo sinónimos de um estado de espírito que aprecio por norma geral mas que desejava em particular para aquele dia. E quando assim o desejo vou para os meus “Secrets spots”, um deles é este…
Quando lá chegamos e já depois de termos feito o nosso pedido, não me lembro em que momento da nossa conversa, um indivíduo com aspecto de 50 anos (mas que na realidade já tinha os seus 60) meteu conversa connosco. De seu nome Miguel, provinha da Dinamarca país para o qual fugiu com 19 anos aproveitando a boleia de uma comitiva de atletismo e da qual não mais regressou, de modo a fugir à guerra colonial. No momento em que se apresentou, dando-se ao trabalho de nos oferecer uma música que mandou servir a todos os presentes (escusado será dizer que só lá estávamos nós os três), apercebi-me logo que deveria ser de boa casta. Quem é que se lembra de presentear música a desconhecidos? Quanto a vocês não sei, mas eu da próxima vez que quiser impressionar o sexo oposto já aprendi o que fazer.
Enquanto lá estivemos, contou-nos toda uma série de crónicas no seu país de acolhimento. Tinha passado fome, andado a vaguear pelas ruas de Estocolmo durante uma série de tempos que nem ele se lembrava, trabalhado como criado de restaurantes e bares, tornara-se carpinteiro por necessidade e tinha aprendido dinamarquês porque assim o exigia o programa de acolhimento a exilados políticos. Toda uma série de privações do qual se inclui também uma fase de alcoólatra devido a solidão que sofreu e da qual recuperou graças a um desconhecido dinamarquês que teve a inteligência de o perceber. Casado 3 vezes, estando actualmente a fazer revista em terras lusitanas com a actual esposa dinamarquesa, tinha 2 filhas e tinha moradia tanto na Dinamarca com em Portugal (Viseu). País que visitava com frequência todos os anos…
O mais que me impressionou nele foi a humildade que parecia emanar. Nunca durante a conversa que mantivemos se verificou, da sua parte, uma réstia de superioridade existencial. Nem tão pouco me pareceu que se estava a gabar. Antes me parecia estar contente por ter regressado ao país que o viu nascer e crescer, e poder partilhar com congéneres seus uns “Lusíadas” menos prosaico, isso é certo, mas igualmente louvável do ponto de vista de esforço humano. Tudo relatado de uma forma afável mas com moldes de uma evidente felicidade nostálgica.

Wednesday, April 18, 2007

Vida...

"Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir a hora da morte que não tinha vivido. Não queria viver o que não fosse vida, viver é tão precioso; nem queria praticar resignacão, a não ser que fosse absolutamente necessário. Queria viver profundamente e sorver toda a essência da vida, viver violenta e espartanamente de forma a derrotar tudo que não fosse vida..." Henry Thoreau


Bruxelas

Bélgica, 03/2007


Bruxelas, 03/2007
Bélgica

People at Bruxelles









"A coisa parece-me bem."

"A coisa parece-me bem." Lembrei-me desta afirmação quando estava, comodamente, a passear no "Marché aux Puce" da "Place du Jeu de Balle", em Bruxelas (mais um mercado de antiguidades a que não resisto...).
A expressão veio de um idoso já manifestamente degastado pelos anos de agricultura rudimentar e de sabedoria enriquecida pelos anos de meditação, que só a solidão consegue dar. E devia-se à criação de um lar, para burros já velhos e desgastados pela colaboração contínua com o homen em trabalhos da terra. Pelo que me deu a entender foi proferida com manifesta satisfação, por dar destino anódino e merecido a um velho burro amigo que lhe pertencia há já vários anos e que já não tinha como tratar.

Simples e explicitamente bela...

Pois enquanto estudava a melhor forma de aprisionar aquela malga de misturas raciais e de objectos aparentemente anacrónicos, tive a felicidade de me distrair (não há mesmo nada a fazer...). Vi então, não com aquele olhar técnico que tanto aprecio, uma mescla étnica e cultural que trazia à Bruxelas, sobejamente esterilizada, alguma cor viva. Ondas de calor inebriantes que me envolveram num manto de lã macio e que me protegiam do típico frio Belga. Mas não apenas a mim...
Lembro-me de apreciar um plausível marroquino (confortavelmente e majestosamente sentado no seu trono decrépito) a discursar, para duas aparentes belgas, acerca de assunto que não me foi possível perceber devido a distância que nos separava. Mas cuja influência nas expressões faciais (intenda-se como sorrisos) belgas demonstravam claramente a autoridade burlesca e calma que este impunha na sua estória.
Recordo-me igualmente daquele romeno romântico e romanesco que cantava e roçava no seu acordeão já gasto e reformado a ladainha do seu país, em troca de uns trocos indeterminados e incertos.
E presumo que foi neste momento que me surgiu a expressão: “A coisa parece-me bem.” Porque me parece bem que as diferenças culturais e étnicas, de várias nacionalidades, tragam diversidade e condimentos em localidades que não as têm. Sejam as especiarias pretas, brancas, vermelhas, amarelas ou mesmo roxas...

Bruxelas, 03/2007

A insustentável leveza do ser...


Por vezes vejo-me a observar mulheres por razões meramente estéticas. Não que seja exigente, porque não o sou. Mas também tenho as minhas manias e, ponto de partida, reparo logo nas mãos e caso se dê a oportunidade atiro-me aos pés. Mas isso são outras estórias. Gosto é de apreciá-las por aquilo que as distingue dos homens: a delicadeza do movimento, o sorriso fácil, o olhar terno, e claro como não poderia deixar de ser, o corpo curvilíneo e aliciante que nos põe de imediato em sentido.
Olho e parecem-me todas mais ou menos distintas, não fugindo cada uma às semelhanças comportamentais que me encantam...

Bruxelas, 03/2007