Coisas dAVID...
Coisas da vida e coisas minhas...
Tuesday, November 22, 2011
Espelho
Não que não saiba quem eu seja e quem tu sejas e que ambos somos o mesmo. Mas porque raramente me encontro comigo. Estou mais habituado a olhar para “fora” e ver os outros como eles são ou pelo menos como os meus olhos os retratam. A saber qual o aspecto que têm quando me cruzo por eles. E quando falo em aspecto falo no geral e no particular. Sei qual a indumentária que usam e afiguro qual o tamanho que gastam em sapatos, sapatilhas ou sandálias. Mesmo não conhecendo a pessoa, vejo-a no seu todo. Sei a cor dos seus olhos e o formato que a boca faz quanto sorri, assobia ou mastiga. Vejo as cicatrizes provocadas por lesões passadas e as outras provocadas pelas pancadas do tempo.
Já no meu caso não faço lá uma grande ideia acerca do aspecto que possuo. Quer dizer, sei mais ou menos como sou, mas nunca me consigo ver na totalidade e para tudo o que estiver acima dos ombros não tenho noção do particular. Nunca hei-de conseguir ver a minha cara sem o recurso a um espelho ou de um vidro que reflicta a minha imagem. Quando ando observo o meu corpo a balançar como um navio no meio de uma tempestade aérea e sinto a cabeça por cima dos ombros a equilibra-se de um desembaraço físico. Mas nunca “me” vejo. É algo que só consigo com a ajuda de um “refléctil”. Imagino o espanto que provocou, quando o homem se viu pela primeira vez reflectido. Queira o destino que tenha sido uma mulher, que por norma gostam mais de se ver reflectidas e de preferência que tenha sido bonita.
Quanto tempo, no total, passo em frente ao espelho durante o dia? Talvez 15, 20 minutos no máximo. E quando estou lá, fica a dúvida do que está para lá. Como se um “eu” desconhecido me aparecesse como que por magia na casa de banho, por cima do bidé. Alguém entrou na minha casa e esqueceram-se de nos apresentar. Já agora, não sei se já reparou mas tem uma verruga medonha junto ao seu ouvido esquerdo. Aí mesmo…
Como sou quando sorrio? Quando choro? E quando algo me dói? E quando tenho um orgasmo? Farei carretas ou será algo agradável de se ver? Tenho que por um espelho junto a cama e não me esquecer de olhar para lá quando os músculos se contraírem. Aliás o ideal seria adaptar um espelho numa espécie de chapéu e andar com aquilo o dia todo. Só para ver como sou às diferentes situações do dia-a-dia. Para “nos” conhecermos melhor e para me habituar a ideia que eu sou tu e tu és eu.
A medida que o tempo se esgota menos me reconheço com o meu “eu” reflectido. São rugas e cabelos brancos que aparecem sem que eu tenha direito de opção ou poder de reclamação. Olheiras, sinais e sei lá que mais... Isso não estava aí ontem a noite, pois não?
Gostava de saber o meu aspecto daqui por 20 anos.
Será que ainda serei eu? Ou será que serei outro?
Tuesday, October 11, 2011
O caminho da perdição...
Por vezes para encontrar o nosso caminho, temos que nos perder. Eu já encontrei o meu, mas sempre gostei de me perder. Pois enquanto me perdia, deparava-me com experiências inexploradas e factos encobertos que ignorava.
No início, quando tens noção que estás perdido, ficas assustado. Encolhido ante a possibilidade do desconhecido e de não encontrares o teu caminho de volta. O caminho de volta é o aconchego da casa, da lareira, do chocolate quente e da manta de lã nos invernos rigorosos.
Contudo não te traz nenhuma emoção, nenhuma aceleração nos batimentos cardíacos, nenhuma martelada no cérebro, nem sentes o sangue a correr aceleradamente pelos teus vasos sanguíneos, nem os músculos contraídos de tanta emoção. Calma e bem estar no “habitat” que reconheces e que entendes…
Depois, surgem-te coisas diferentes e exprimes: “Ah! O que é isso?!”. Ficas novamente assustado, mas se a tua curiosidade não se atrofiar e a coragem não te abandonar ficas a ver o que acontece. Tentas saber o que se passa e inteirar-te acerca desses novos acontecimentos.
E logo te ris da tua ignorância por aquilo nunca te ter surgido e por nunca te teres apercebido de algo tão bom. E isso é fantástico!
É claro que por vezes, enquanto te perdes, também acontecem coisas más. Mas quando acontecem, mesmo assim aprendes algo de novo ou dás reciclagem a algo que já sabias sem perder o que já ganhaste. Porque o que já ganhaste foram os caminhos que te emocionaram. E isso fica gravado na tua memória. Ninguém to tira…
No meio disso tudo, conheces uma data de gente.
Umas que interessam e outras não. Não acredito em pessoas boas e noutras más. Isso requeria o reconhecimento da existência da dualidade do bem e do mal. E eu já não acredito nisso. Isso são estórias para assustar os miúdos e consequentemente manipular os graúdos. Acredito que as pessoas têm interesses e necessidades próprias. E o que as une são os interesses que têm em comum e a forma como interagem para suprimir as suas necessidades. E quando encontras alguém assim é estupendo!
E enquanto andas, podes sempre tentar voltar para trás. Mas geralmente não o fazes porque encontras o teu caminho. Ou então o teu trilho foi aquele que deixaste lá atrás, o original, e tiveste que caminhar esse tempo todo extraviado para chegar a essa conclusão.
Mas o que fica sempre mais vivo, mais presente são os caminhos pelos quais te perdeste. Aquilo que te ensinou, aquilo que te ensinou a desaprender para voltares a aprender. As experiências que julgavas loucas, mas que hoje achas normal, banal. Ou os factos que desejavas há muito ter presente, mas que nunca soubeste confrontar ou que ignoravas.
E acho que isso é algo de bom que a vida tem. Saber perder-nos sem nos perder a nós próprios. Saber perder-nos para nos encontrarmos…
Tuesday, May 10, 2011
Tuesday, January 11, 2011
Monday, January 10, 2011
Sunday, January 9, 2011
Tuesday, March 31, 2009
Thursday, March 19, 2009
Wednesday, March 4, 2009
Wednesday, February 25, 2009
Thursday, June 7, 2007
Há coisas fantásticas não há?
Sou pessoa do meu tempo. Definitivamente!(Gosto pouco de ser pretencioso e tenho horror a todo o tipo de arrogâncias mal contidas.) A prova da minha afirmação é que há sensivelmente um ano (?) fiz uso de uma das ferramentas mais em voga no contacto virtual com estranhos. A ferramenta era a internet (mais especificamente o msn); a estranha uma fotógrafa cujo trabalho sempre apreciei. A internet tem destas coisas, conseguimos com um teclado o que sempre desejamos com um olhar. E foi através do site «olhares» que fiz a descoberta de mais uma amiga. Ressalva-se o esforço mental que fiz para me convencer que talvez não fosse má ideia conhecer pessoas através de um écran insensivél às emoções humanas.
Havia já algum tempo que estava a par do trabalho da Rosalina Afonso (www.olhares.com/rosalinaafonso) e ela do meu (www.olhares.com/dAVID2) . Delicado, simples e belo é o que tenho a dizer da obra que edificou. Tendo no seu perfil a morada electrónica que me abria as portas da sua casa, sem a necessidade de fazer knouck! knouck!, ganhei coragem e entrei em contacto com ela. Após algumas trocas de opiniões acerca de fotografia e de outros assuntos mais curriqueiros, surgiu da parte dela o convite para registar fotograficamente um jogo do Campeonato Nacional de Beisebol. E eu pensei: Porque não?
Convém dizer que no momento em que o convite me foi dirigido, encontrava-me numa daquelas fases de desmotivação dagueriótipas. Doença maior e pior que um fotógrafo pode sofrer. Ponderei seriamente em declinar o convite. Ainda bem que não fiz...
Calma, culta e decidida foram as características que mais se evidenciaram no meu periscópio mental, acerca da personalidade dela. Acerca da minha fiquei com a impressão de que «adorou» a tarte de maçã que lhe decidi levar no dia anterior; pouco mais...
Há coisas fantásticas não há?
Friday, April 27, 2007
Miguel o Dinamarquês:
Acabamos por nos dirigir ao bar da pousada. Calmo, sereno, tranquilo, sossegado, pacato, ameno, descontraído ou relaxante (já vos contei a minha relação com os relaxantes?), tudo sinónimos de um estado de espírito que aprecio por norma geral mas que desejava em particular para aquele dia. E quando assim o desejo vou para os meus “Secrets spots”, um deles é este…
Quando lá chegamos e já depois de termos feito o nosso pedido, não me lembro em que momento da nossa conversa, um indivíduo com aspecto de 50 anos (mas que na realidade já tinha os seus 60) meteu conversa connosco. De seu nome Miguel, provinha da Dinamarca país para o qual fugiu com 19 anos aproveitando a boleia de uma comitiva de atletismo e da qual não mais regressou, de modo a fugir à guerra colonial. No momento em que se apresentou, dando-se ao trabalho de nos oferecer uma música que mandou servir a todos os presentes (escusado será dizer que só lá estávamos nós os três), apercebi-me logo que deveria ser de boa casta. Quem é que se lembra de presentear música a desconhecidos? Quanto a vocês não sei, mas eu da próxima vez que quiser impressionar o sexo oposto já aprendi o que fazer.
Enquanto lá estivemos, contou-nos toda uma série de crónicas no seu país de acolhimento. Tinha passado fome, andado a vaguear pelas ruas de Estocolmo durante uma série de tempos que nem ele se lembrava, trabalhado como criado de restaurantes e bares, tornara-se carpinteiro por necessidade e tinha aprendido dinamarquês porque assim o exigia o programa de acolhimento a exilados políticos. Toda uma série de privações do qual se inclui também uma fase de alcoólatra devido a solidão que sofreu e da qual recuperou graças a um desconhecido dinamarquês que teve a inteligência de o perceber. Casado 3 vezes, estando actualmente a fazer revista em terras lusitanas com a actual esposa dinamarquesa, tinha 2 filhas e tinha moradia tanto na Dinamarca com em Portugal (Viseu). País que visitava com frequência todos os anos…
O mais que me impressionou nele foi a humildade que parecia emanar. Nunca durante a conversa que mantivemos se verificou, da sua parte, uma réstia de superioridade existencial. Nem tão pouco me pareceu que se estava a gabar. Antes me parecia estar contente por ter regressado ao país que o viu nascer e crescer, e poder partilhar com congéneres seus uns “Lusíadas” menos prosaico, isso é certo, mas igualmente louvável do ponto de vista de esforço humano. Tudo relatado de uma forma afável mas com moldes de uma evidente felicidade nostálgica.